quarta-feira, 25 de maio de 2011

Capoeira: Um longo caminho até sua institucionalização

Quando se fala em capoeira, uma das primeiras discussões diz respeito a origem da mesma, ainda não há consenso, uns dizem ser brasileira, outros africana, e há os que afirmam ser afro-brasileira. A tendência é que seja brasileira, pois, estudos foram realizados na África e em outros países onde existiu a escravidão negra e nada igual foi encontrado.
Podemos conceituar a capoeira como cultura, nascida a priori do povo e para o povo, os elementos encontrados na capoeira é uma mistura fabulosa, por isso o negro e o índio são partes fundamentais desta mistura.

Com a libertação dos escravos em 1888, o negro se viu livre, mas sem nenhum bem material ou moral, muitos continuaram nas fazendas realizando trabalho escravo, outros, no entanto iam tentando se adaptar ao novo rumo de suas vidas, mas caiam na marginalidade, sendo capangas, roubando e furtando. Por isso que existia uma forte corrente, principalmente por parte da polícia para conter o avanço da capoeira, sendo que nos registros de policia, existiam vários relatos de negros presos pela prática da capoeira. Com isso, durante um longo período a capoeira passou a ser preocupação para o império, principalmente com os surgimento das Maltas (organizações de caráter marginal composto por capoeiristas), a preocupação era tão grande que as autoridades adotaram o lema “se não pode com eles, junte-se a eles”.
A partir daí são apontamos três momentos históricos que atualizaram as representações sociais sobre a capoeira, sua criminalização, sua legalização e sua institucionalização.
No primeiro período, de criminalização, é encontrada uma grande presença de escravos negros capoeiristas, a capoeira ainda não era considerada crime, era uma contravenção, seus praticantes recebiam punições severas. No inicio do século XIX, os capoeiras eram tidos como marginais e ao longo do tempo foi tornando-se perigoso para àqueles que se julgavam mantenedores da ordem. As perseguições não paravam por aí, as autoridades tinham medo que os praticantes e adeptos da capoeira se unissem e formassem uma grande massa, então uma das estratégias era a repressão. Depois de todo esse processo de marginalização, a capoeira passou a ser criminalizada, ou seja, foi inserida no código penal de 1890. Há fortes indícios que tanto no Rio de Janeiro como em Salvador a atuação das Maltas foi um dos motivos pelos quais a capoeira passou a ser contravenção penal e logo após crime, muitos capoeiristas foram presos e mandados para ilha de Fernando de Noronha e outros locais isolados, para prestar trabalhos forçados.
Com o passar do tempo, a sociedade brasileira foi se modernizando, e a capoeira foi se aproximando da luta e da esportivização, e passou pelo processo de branqueamento vivido com força no final do século XIX e inicio do XX. O palco desse segundo momento vivido pela capoeira foi Salvador, e é com essa idéia de branqueamento e esportivização que veio a legalização.
Em 1937, Manuel dos Reis Machado, “Mestre Bimba”, abre oficialmente uma escola de capoeira, o “Centro de Cultura Física e Capoeira Regional”. Na mesma época Vicente Ferreira Pastinha, “Mestre Pastinha”, sistematiza e divulga o estilo conhecido como capoeira Angola. Dois mestres negros, que fazem com que a capoeira, a partir das décadas de 30 e 40 abarque cada vez mais pessoas brancas provenientes das classes médias da cidade, com isso a capoeira sai das ruas ganhando um novo significado.
Foi durante o governo de Getúlio Vargas que a capoeira sai da ilegalidade, e o então presidente do Brasil percebendo que a capoeira era uma das mais fortes manifestações advinda do povo, retirou-a do código penal.
Neste terceiro momento vivido pela capoeira, o palco é São Paulo. A capoeira cresce e vai tomando grandes proporções Brasil a fora, é nesse contexto que acontece sua institucionalização: A capoeira foi reconhecida como prática desportiva pela primeira vez como “luta brasileira (capoeiragem)”, pela lei federal 3.199 de 14/04/91, onde foi criado o Departamento Nacional de Capoeira junto à Confederação Brasileira de Pugilismo. Novamente,em abril de 1953, foi reconhecida como Desporto pela Deliberação 071 do Conselho Nacional de Desporto. Outro reconhecimento ocorreria em 26/12/72 por uma sessão do CND, cuja ata foi lavrada em 16/01/73. “A capoeira é reconhecida oficialmente como esporte em 1972, conforme portaria expedida pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC). Em fevereiro de 1995, a Capoeira foi definitivamente reconhecida como DESPORTO DE ALTO RENDIMENTO e inserida no seleto rol das entidades que integram o Comitê Olímpico Brasileiro – COB.
A verdade é que a capoeira foi se modificando e acompanhando o desenvolvimento da sociedade, e depois de um longo e bravo caminho, de forma merecida foi institucionalizada e a partir daí passou a ser respeitada.

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